sábado, 5 de outubro de 2013

Jack Kirby: o pai da Marvel

Por; Renan Martins Frade

Se estamos aqui falando de quadrinhos e se, hoje, a Marvel ganha milhões, devemos em parte a Jack “The King” Kirby, que estaria completando 96 anos nesta quarta-feira, 28. Kirby foi o pai – ou o “co-pai”, ao lado de Stan Lee (não vamos entrar em polêmicas…) – de boa parte dos heróis da Marvel Comics.
Jack Kirby
Kirby, que era de origem judaica, nasceu em Nova York no ano de 1917 e cresceu no Lower East Side de Manhattan – não é à toa que a cidade acabou se tornando o cenário das maiores HQs do artista. Ele começou a trabalhar com tiras de jornal em 1936, com 19 anos e, depois, chegou a trabalhar no estúdio de animação dos irmãos Fleischer fazendo os primeiros (e obras de arte) desenhos animados do Popeye. Depois ele trabalhou para o estúdio Eisner & Iger, fazendo arte para diversas publicações.
Tudo mudou quando Kirby firmou uma grande parceria. Não foi com Stan Lee, mas sim com Joe Simon, na Fox Feature Syndicate (onde ganhava razoáveis US$ 15 por semana). Depois da Fox, ambos foram para a então Timely Comics, onde criaram o primeiro personagem marcante: o Capitão América. O sucesso foi tanto que Kirby foi chamado por Simon para ser o diretor de Arte da Timely.
Captain America Comics #1
Achando que ganhavam pouco, Kirby e Simon foram para a National Periodical – que hoje responde pelo nome de DC Comics. Lá eles recriaram o Sandman, criaram a primeira equipe dos Caçadores e o Comando Juvenil, além da Legião Jovem.
Aí veio a Segunda Guerra Mundial e, depois dela, ambos foram trabalhar na Harvey Comics, onde criaram diversos heróis – incluindo o Capitão 3-D, além de terem feito vários trabalhos freelancers. Já nos anos 50 os dois criaram uma editora própria, a Mainline Publications, que teve certo sucesso entre 1954 e 55, mas acabou sofrendo problemas e levou a amizade entre Kirby e Simon a um desgaste.
Sem uma casa, Kirby fez trabalhos para diversas editoras nos anos seguintes, incluindo a DC e a Atlas Comics (segundo nome adotado pela Timely). Essa última, infelizmente, passou por uma grave crise no final dos anos 50.
Depois de um problema na DC (incluindo críticas de editores ao estilo de Kirby), o artista voltou para a Atlas. Não era um momento fácil para ele e, devido ao baixo valor pago por página, Kirby chegou a trabalhar de 13 a 14 horas seguidas em revistas de terror, western e romance. Só que tudo mudou no final de 1961.
Era das Maravilhas
Foi em 1961 que começou uma nova parceria. Stan Lee, editor-chefe da pequena Atlas, estava sofrendo pressão do tio, o publisher Martin Goodman, e por isso apostou nos super-heróis. Surgia o Quarteto Fantástico, já publicado sob o selo da Marvel Comics. Kirby foi convidado para desenhar a revista quando já pretendia pedir demissão.
Fantastic Four #1
Assim nascia uma lenda. A dupla Lee/Kirby levou o Quarteto ao estrelato, trazendo o dinheiro e a atenção que faltavam para a Marvel. Apesar dos plots de Lee, Kirby tinha bastante liberdade, sendo também responsável pelas criações que se seguiram – como o Surfista Prateado.
Com as contas pagas, Lee e Kirby criaram nos anos seguintes o Hulk, Thor, Os Vingadores, X-Men, Magneto, Inumanos, Pantera Negra, Homem de Ferro (com Larry Lieber e Don Heck) e mais uma infinidade de personagens. Além disso, Kirby fez os primeiros sketches (não aprovados) do Homem-Aranha, além de desenhar a capa de Amazing Fantasy #15 (a arte interna e o visual final do herói são de Steve Ditko).
Nesse mesmo período, o arista passou a investir em experimentações como colagens, os “Kirby Dots” (a representação do espaço por meio de pontos), entre outras coisas.
Eventualmente Lee, Kirby e a Marvel se desentenderam por questões contratuais e créditos pelas criações. Assim, The King foi negociar a ida para a DC – algo que demorou dois anos para ser fechado.
O Quarto Mundo
Na DC, Kirby quis escrever e desenhar um gibi que estivesse pra ser cancelado, assim não roubaria o lugar de ninguém. Recebeu Superman’s Pal Jimmy Olsen e ainda lançou outras três revistas: New Gods, Mister Miracle e The Forever People. Nascia O Quarto Mundo, que trouxe todo um rico universo espacial para a DC e o maior vilão da editora, o Darkseid. Infelizmente a iniciativa acabou cancelada antes de ter um fim.
Darkseid
Ainda na DC, Kirby criou Kamandi, OMAC e Cobra. Além disso, mais uma vez com Joe Simon, recriou Sandman pela segunda vez.
Para o desespero do quadrinista, seus impulsos criativos não estavam dentro dos conceitos da DC na época. Inclusive chegaram a redesenhar (sem o consentimento dele) os rostos do Superman para o gibi do Jimmy Olsen.
Em 1975, Kirby finalmente voltou para a Marvel, trabalhando com o Quarteto Fantástico e com o Thor. Ele também criou The Eternals, que trouxe os Celestiais pela primeira vez. Pena que ele não era mais feliz na antiga casa.
Nos anos seguintes, Kirby trabalhou com animações e, depois, com editoras pequenas, onde criou Captain Victory and the Galactic Rangers. Como freelancer, ele ainda chegou a fazer um revival do Quarto Mundo na DC na minissérie Super Powers. Também colaborou com alguns produções de cinema, incluindo o projeto Argo.
Em fevereiro de 1994, aos 76 anos, o coração de Jack Kirby parou de bater.
Ainda assim, nenhuma das criações do quadrinista nos deixou e, desde os anos 40, embalam a imaginação de inúmeras pessoas, não importando a idade delas. Infelizmente Kiby nunca teve nem um décimo da atenção de Stan Lee, o que ele evidentemente merece – por isso contamos aqui quase que toda a trajetória do cara. Será que isso aconteceu por conta do temperamento do artista? Talvez.
Gênios, no final das contas, são assim.

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