sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protesto começa de forma pacífica e termina com vandalismo em Salvador

Do G1 BA
 
montagem (Foto: Arte/G1)Protesto em Salvador é marcado por beleza e confronto de jovens e polícia (Foto: Arte/G1)
Cerca de 20 mil pessoas foram às ruas do centro de Salvador nesta quinta-feira (20) para protestar contra corrupção e aumento da tarifa de ônibus em cidades do país. A manifestação começou de forma pacífica, reunindo muita gente na praça do Campo Grande, mas terminou com confusão, confronto e vandalismo.
Os repórteres Egi Santana, Ida Sandes, Lílian Marques acompanharam o protesto em diversos pontos do centro da cidade. Os manifestantes se dividiram e um grande grupo tentou acessar o entorno da Arena fonte Nova, pouco antes das 17h, estádio onde Nigéria e Uruguai se enfrentariam às 19h. Nazaré, Estação da Lapa, Avenidas Centenário e Sete, Barris, Vale do Canela e Praça da Piedade foram algumas das regiões que concentraram grupos de manifestantes, cenários de muitos confrontos entre polícia e jovens.
De rostos pintados em verde e amarelo, cartazes nas mãos e causas diversas, o grupo se uniu pela segunda vez, engrossando a onda de protestos que ocorre em todo o país. Havia gente de todas as idades, principalmente jovens. Máscaras do personagem "V", do filme "V de Vingança", marca dos protestos, foram amplamente usadas.
Entre os mais velhos estava o médico Deraldo Faria. "Eu tenho acompanhado as manifestações pelo país e hoje tive a oportunidade de vir prestigiar essa causa que é de todos", opinou sobre os pedidos de melhora no sistema de transporte público, uma das pautas levantadas pelo Movimento Passe Livre.
Para a jovem Rafaela Oliveira, moradora de Cajazeiras, periferia da cidade, os soteorpolitanos não estavam nas ruas "apenas" pela redução da passagem ou pelo passe livre. "A gente paga R$ 2,80, mas não somos respeitados, os ônibus estão sempre sujos, velhos, não param em pontos", reclamou.
No caso de Adilson Ribeiro, 25 anos, o protesto foi, sobretudo, uma oportunidade de unir a cidade por uma causa. "Eu, por exemplo, sou cristão, mas hoje estou com uma galera gay aqui, todos juntos me prol do nosso bem, o bem de todos. Costumamos dizer que uma sociedade muda ou não muda", comentou.
Protesto em Salvador, na Bahia, dia 20 (Foto: Silvia Resende\Arquivo Pessoal)Vista do alto da população reunida na Avenida Centenário (Foto: Silvia Resende\Arquivo Pessoal)
Apesar da calmaria inicial, em meio à caminhada que seguiu pela Avenida Sete, Avenida Joana Angélica e o bairro dos Barris, uma onda de protestos violentos se formou, gerando confronto com a Polícia Militar. Parte dos manifestantes destruiu carros, banheiros químicos, vitrines de lojas, saqueou e depredou ônibus, além de patrimônio público e agências bancárias.
Manifestantes e policiais ficaram feridos. Muitas bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas, em alguns locais praticamente sem cessar. A polícia também usou gás de pimenta. As pessoas que foram às ruas com a intenção de protestar pacificamente tiveram que assistir às cenas de destruição, enquanto tentavam vaiar e pedir para que aqueles que destruíam as ruas parassem de cometer os crimes. Muitos gritavam "sem violência", na tentativa de inibir a ação da minoria. Em diversos momentos, houve embate com policiais militares.
Protesto em Salvador, na Bahia, dia 20 (Foto: Edgar de Souza/Arquivo pessoal)Jovens enfrentam a polícia durante confronto (Foto: Edgar de Souza/Arquivo pessoal)
A manifestação não foi interrompida durante a noite. Houve intenso confronto entre os policiais e os manifestantes em frente ao Teatro Castro Alves até por volta das 20h30. Pessoas se dirigiram ao bairro da Barra e caminharam até Ondina. Nesse local, o grupo novamente se dividiu entre a Avenida Adhemar de Barros e o Palácio de Ondina, residência do governador da Bahia, Jaques Wagner. No mesmo horário, manifestantes também se faziam presente na região da Avenida ACM, seguindo até a Avenida Tancredo Neves em caminhada. A Polícia Militar dispersou o grupo lançando cerca de quatro bombas de gás lacrimogêneo.
O balanço de pessoas presas durante o protesto em Salvador deve ser divulgado nas próximas horas pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Um jovem de 28 anos, que já tem passagem na polícia, foi preso flagrado apedrejando um banco na Avenida 7 de Setembro. O governador Jaques Wagner convocou a imprensa para uma coletiva na manhã de sexta-feira (21) para tratar do assunto.
Gás lacrimogêneo
A equipe do G1 presenciou momentos de embate entre os PMs e os manifestantes. Na região da Avenida Joana Angélica, um grupo de jovens tentou furar o cordão de isolamento formado pela polícia, quando foram repreendidos com bombas de gás lacrimogênio.

As bombas eram disparadas por homens do Batalhão de Choque, que montava um segundo cordão de isolamento a cerca de 50 metros do que foi invadido pelos manifestantes. As bombas lançadas na proximidade dos manifestantes que tentaram invadir o isolamento, e muitas vezes contra manifestantes que faziam movimento pacífico, geraram correria e desespero nas pessoas.
 Muitos foram atingidos pelos efeitos do gás, inclusive os repórteres do G1, que dá a sensação de queimação da pele, ardência nos olhos e forte falta de ar, que perdura por minutos. (No vídeo acima, uma jovem relata parte da experiência no momento em que as bombas de gás foram disparadas perto do Colégio Central).
Na Avenida Centenário, perto da Arena Fonte Nova, o movimento também começou pacífico. Um manifestante furou o bloqueio feito por policiais da Rondesp RMS, unidade especializada da PM, que tinha cobertura de um grande cordão de isolamento do Batalhão de Choque. A PM tentou conversar com manifestantes e um grupo, que também era a favor de um movimento sem embate com a polícia, também tentou conter os demais colegas, mas não houve sucesso.
Após invasão do blouqueio policial por alguns manifestantes, a PM revidou, lançou as bombas de gás e usou spray de pimenta. A cavalaria da PM avançou contra os manifestantes. Em seguida, a polícia começou a disparar balas de borracha. Os manifestantes não conseguiram chegar ao estádio onde Nigéria e Uruguai já se enfrentavam.
Para a estudante de Direito Débora Teixeira, 21 anos, e que também sofreu os efeitos do gás, o que estava em jogo era a liberdade. "Eles cercearam nosso direito de ir e vir. Jogaram bombas, tiros em todo mundo, tinha um imenso grupo atrás, protestando de forma pacífica, que também sofreu represália", reclamou, afirmando que "a Fifa não pode ditar os limites e onde os cidadãos das cidades devem andar ou circular".
Vandalismo
Já por volta das 18h, quando as manifestações pacíficas começavam a se dispersar, jovens cometeram uma série de atos de vandalismos na região da Avenida Sete de Setembro. A reportagem presenciou jovens de rostos cobertos por camisas depredando agências bancárias, atirando lixeiras, retirando placas de trânsito e lançando pedras contra as lojas da região. Parte dos manifestantes tentava vaiar e pedir para que os atos não fossem realizados, mas sem êxito.

Lixo foi atirado na pista e incendiado por manifestantes, abrindo verdadeiras clareiras de fogo na avenida. Cones de trânsito também foram queimados e banheiros químicos atirados na rua.
Por volta das 20h, parte dos jovens seguiu em direção ao Campo Grande, onde continuaram com os atos de vandalismo e depredação do bem público. A polícia tentava coibir com o uso de bombas de efeito moral e balas de borracha. Um ônibus foi depredado e saqueado no local. Os abrigos em pontos de ônibus foram destruídos, placas de sinalização foram arrancadas do chão e os manifestantes colocaram fogo em diversas vias da região. Eles também lançaram pedras nos policiais.
Já na Avenida Centenário, ônibus foram depredados e um deles foi incendiado por um grupo de jovens. O cenário nas ruas do centro de Salvador eram de sujeira, pichação e muitas pedras portuguesas, que eram lançadas pelos manifestantes. A organização do protesto marcou um mutirão de limpeza para as 7h30 de sexta-feira. Eles pedem que a população leve tinta branca, vassouras, sacos de lixo, sabão e baldes.
Protesto em Salvador, na Bahia, dia 20 (Foto: Lilian Marques/G1)Ônibus depredado no Campo Grande. Todas as janelas foram destruídas; cobrador teve celular e carteira roubados (Foto: Lilian Marques/G1)

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